Para
Refletir
Tenho notado e acompanhado, ao longo de mais de
20 anos, dedicados em grande parte às avaliações
de imóveis e perícias judiciais, debates e argumentações,
muitas vezes inflamados, sobre a eficiência das metodologias
comparativas de dados de mercado.
Vejo constantemente, alguns dizendo que o critério
da regressão linear ou múltipla é o mais eficiente,
que a interferência do avaliador durante o processo avaliatório
é menor, que o critério do tratamento por fatores
já é ultrapassado etc. Por outro lado, os defensores
do tratamento por fatores dizendo que o critério da regressão
linear é mais oneroso, que não se recebe o valor justo
para tanto trabalho, que o número de amostras é maior,
sendo impossível adotá-lo em muitos cantos desse "Brasilzão"
etc.
Nessa minha jornada, tenho visto muita coisa boa
e ruim feita nos dois processos. Acho que o Avaliador deve sim,
debater e discutir sobre as metodologias avaliatórias, buscando
aprimorá-las, sem excluir nenhuma delas. São ferramentas
de trabalho que custaram décadas para atingirem o estágio
de desenvolvimento atual. Foram desenvolvidas pelos ícones
da engenharia de avaliações, comentadas e amparadas
em toda a bibliografia que trata do assunto. Ambas são de
grande valia e podem ser, sem sombra de dúvida, muito eficientes
nas diversas situações do dia a dia da nossa atividade.
Quanta coisa aprendi sobre avaliação
de imóveis no livro que ganhei do meu saudoso avô enquanto
eu ainda era um estudante de engenharia. "Avaliações
de Imóveis de L.C Berrini", da 4ª edição,
datada de 1959, 58 anos atrás, um livro numerado e com a
rubrica do próprio Berrini. O mais incrível é
que os assuntos tratados neste livro são utilizados por todos
nós. Aconteceram evoluções, mas os princípios
continuam os mesmos.
Sob a minha ótica, a maneira como são
tratados os dados nos laudos de avaliação é,
sem dúvida alguma, de suma importância para a qualidade
de qualquer trabalho, porém, é uma parcela ínfima
de todo o processo avaliatório. O trabalho do Avaliador vai
muito além disso. Costumo dizer que o Avaliador tem que,
obrigatoriamente, conseguir enxergar em três dimensões
e num ângulo de 360º, ter capacidade de estimação,
ter "faro", escutar muito mais do que falar, ser minucioso,
ser simples e objetivo, ser teórico e prático ao mesmo
tempo e, principalmente, ser imparcial e ético.
Um avaliador não pode ser somente um "expert"
na ciência da matemática e estatística e muito
menos querer, simplesmente, "matematizar" os trabalhos
avaliatórios, isto o levará a resultados catastróficos.
Uma avaliação não é feita somente com
fórmulas, teoremas e normas. O profissional da área
tem que ter o dom da contestação, da percepção
e da criação.
Portanto, não devemos somente substituir.
Sejamos capazes de somar e aprimorar nossos conhecimentos.
Eng. Antônio Lúcio de Andrade Moreira
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